Livro I - Do Céu e do Inferno
"O Grande Conflito"
Desde o princípio, as forças da luz e da escuridão estabelecem uma guerra eterna: O Grande Conflito, cujo triunfador surgirá das cinzas apocalípticas para ostentar o domínio sobre toda a criação. Para alcançar este objetivo, os Anjos do Paraíso seguem estritas disciplinas militares. Os Serafins guerreiros atacam os inimigos da luz com espadas banhadas na ira e na justiça. Os Anjos crêem que somente a disciplina absoluta pode restaurar adequadamente a ordem aos milhares de reinos, enquanto que os demoníacos habitantes dos Infernos Ardentes acham que o caos absoluto é a verdadeira natureza de todas as coisas.
As batalhas do Grande Conflito propagam-se através do tempo e espaço, transgredindo até mesmo a realidade. Desde o Arco de Cristal no coração do Paraíso até a Arcana Forja Infernal do Mundo Inferior, os guerreiros destes reinos eternos viajam para onde quer que seu conflito atemporal os leve. As façanhas legendárias dos heróis dos reinos vão mais além, produzindo veneração e inspiração.
O maior destes heróis foi Izual, primeiro-tenente do Arcanjo Tyrael e portador da Lâmina Rúnica Angelical, Azurewrath, também chamada de Ira Azur. Em certa ocasião, desferiu um feroz ataque sobre a Forja Infernal, justamente quando a criação da lâmina demoníaca Shadowfang estava a ponto de se finalizar. Sua missão era destruir arma e portador - uma tarefa que estava destinado a nunca completar. Izual foi vencido pelas legiões do caos e, tragicamente, virou-se à favor da escuridão. Seu destino é o juramento do fato que Anjos e Demônios entrariam sem temer em qualquer domínio - mesmo que seus odiados inimigos ali habitassem.
Mesmo com o Grande Conflito prolongando-se por mais tempo que as estrelas no céu, nenhum dos grupos conseguiu dominar o outro por muito tempo. Ambas as facções procuraram formas de virar a maré da guerra à seu favor. Com a ascensão do Homem e seu reino mortal, o Grande Conflito chegou à um misterioso clímax. Ambos os exércitos detiveram-se desalentados em um ponto neutro, esperando para ver de que lado o Homem tomaria partido quando chegasse a hora.
Os mortais possuíam a habilidade única de escolher entre a luz e a escuridão, e acreditava-se que este seria o fator decisivo para o resultado do conflito. Assim, os agentes dos reinos do além desceram ao reino dos mortais para obter os favores do homem...
"A Guerra do Pecado"
A chegada do Grande Conflito ao reino mortal ficou conhecida como A Guerra do Pecado. Anjos e Demônios disfarçados misturavam-se entre os homens, tentando secretamente converter os mortais às suas respectivas causas. Com o tempo, as forças da escuridão perceberam que os mortais reagiam muito mais à força bruta que à sutileza, assim, começaram a aterrorizá-los com a submissão. Os Anjos lutaram para defender a humanidade desta opressão demoníaca, mas com freqüência seus métodos austeros e castigos severos acabavam por alienar àqueles que queriam proteger.
As violentas batalhas da Guerra do Pecado alastraram-se, mas raras vezes eram presenciadas pelos suplicantes olhos do homem. Só uns poucos "iluminados" eram conscientes dos seres sobrenaturais que caminhavam em meio à multidão. Poderosos mortais surgiram para se engajar à Guerra do Pecado, aliando-se à ambos os lados. As legendárias façanhas destes grandes guerreiros mortais serviram para despertar o respeito e o ódio dos mundos do além. Ainda que os demônios menores se acercassem daqueles que possuíssem poder e força, também amaldiçoavam a existência do homem mortal. Muitos destes demônios acreditavam que as mortes causadas pela aparição do homem eram uma perversa ofensa à seu papel "superior" no grande esquema das coisas.
Este sentimento provocou infames e atrozes atos de violência contra o reino mortal. Alguns homens descobriram este profundo ódio e o utilizaram contra os habitantes do mundo inferior. Um destes mortais, Horazon o Invocador, divertia-se invocando demônios e corrompendo-lhes a vontade. Horazon, junto com seu irmão Bartuc, era membro do clã Oriental de feiticeiros conhecido como Os Vizjerei. Este clã místico estudava os hábitos dos demônios e havia catalogado seus conhecimentos durante gerações. Favorecido por tais conhecimentos, Horazon apoderou-se da obra dos Vizjerei e a perverteu para seus dementes propósitos. Os habitantes do inferno queriam vingar-se deste mortal, mas Horazon mantinha-se bem protegido no interior de seu santuário arcano.
Bartuc, seu irmão, foi arrastado para a escuridão, onde ganhou uma força excepcional e uma extraordinária longevidade para lutar junto com as legiões do inferno contra os malditos Vizjerei e, em certo momento, contra seu próprio irmão na Guerra do Pecado. Embora Bartuc fosse famoso entre os guerreiros de vários reinos, seu domínio em batalha cobrava um terrível preço. Uma insaciável sede de sangue mortal predominava sobre cada um de seus atos e pensamentos. Bartuc tornou-se tão convicto a beber e banhar-se no sangue de seus inimigos que em certo ponto ficou conhecido apenas como o Senhor Guerreiro do Sangue.
"O Exílio Sombrio"
"Sete é o número dos poderes do Inferno, e Sete é o número dos grandes demônios"
Duriel, o Senhor da Dor
Andariel, a Donzela da Angústia
Belial, o Senhor das Mentiras
Azmodan, o Senhor do Pecado
Estes são os nomes reais dos menores dos Grandes Demônios. Durante incontáveis eras cada um deles governou seu próprio domínio nos Infernos Ardentes, buscando domínio absoluto sobre seus irmãos infernais. Enquanto os Quatro Menores lutavam continuamente pelo controle das forças que habitavam seus reinos, os Três Grandes ostentavam o poder absoluto sobre o inferno. Os Quatro Menores utilizaram sombrias e malvadas medidas em sua busca de poder e assim começa a lenda do Exílio Sombrio.
Mephisto, o Senhor do Ódio
Baal, o Senhor da Destruição
Diablo, o Senhor do Terror
Estes são os Demônios Primários do inferno, que elaboraram seu poder como um escuro triunvirato soberano. Os Três Irmãos governaram sobre os Quatro Menores com força brutal e maliciosa astúcia. Sendo os mais antigos e fortes dos demônios, os Irmãos foram responsáveis por incontáveis vitórias contra os exércitos da luz. Embora nunca mantivessem o domínio sobre o Paraíso por muito tempo, os Três eram temidos com razão entre seus inimigos e outras criaturas.
Com a ascensão do homem e a subseqüente paralisação do Grande Conflito, os Três Irmãos começaram a dedicar suas energias para corromper as almas mortais. Eles se deram conta que o homem era a chave da vitória na guerra contra o Céu, de forma que alteraram os planos que haviam tão fielmente seguido desde o princípio. Esta mudança fez com que muitos dos demônios menores questionassem a autoridade dos Três, o que causou um grande abismo entre os Demônios Primários e seus servidores.
Em sua ignorância, os demônios menores começaram a crer que os Três estavam com medo de continuar a guerra contra o Céu. Frustrados pelo cessar da guerra, Azmodan e Belial viram a situação como uma oportunidade de derrotar os demônios primários e assumir o controle do inferno. Os dois senhores demônios fizeram um pacto com seus irmãos menores, assegurando que a praga maldita da humanidade não interferiria na vitória definitiva dos filhos do inferno. Azmodan e Belial planejaram reiniciar as batalhas, conseguir a vitória na Guerra do Pecado e finalmente cavalgar a crista sangrenta do Grande Conflito diretamente para os braços do Armagedon. Sendo assim, movimentou-se uma grande revolução na qual todo o inferno foi à guerra contra os Três Irmãos...
Os Irmãos combateram com toda a selvageria do Mundo Inferior, e para seu respeito, aniquilaram um terço das legiões traidoras. No entanto, ao final foram derrotados pelos Mortos Chifrudos liderados por Azmodan e Belial. Os demônios primários, fisicamente debilitados, foram banidos ao reino mortal, onde Azmodan esperava que ficassem presos para sempre. Ele acreditava que com os Três liberados sobre a humanidade, os Anjos veriam-se obrigados a dirigir seus esforços para o plano mortal - deixando assim as portas do Céu abandonadas e indefesas. Os poucos demônios que ainda eram fiéis aos Três Irmãos escaparam da ira de Azmodan e Belial, indo ao reino do homem em busca de seus Amos perdidos.
Enquanto o fogo da cruel luta morria nos campos de batalha do inferno, Azmodan e Belial começaram a discutir sobre qual deles seria a mais alta autoridade. O pacto que haviam feito aos poucos foi se desfazendo, enquanto os dois senhores demônios levantavam-se um contra o outro. As legiões infernais que restaram, dividiram-se entre os senhores, o que causou uma sangrenta guerra civil que dura até hoje...
"O Encarceramento dos Três"
Nas épocas passadas, antes da ascensão dos Impérios Ocidentais, as sombrias e terríveis entidades conhecidas como os Três Demônios, foram exiladas no mundo dos homens. Estas entidades eternas vagaram pelo mundo alimentando-se do desejo do homem, desejando caos e aflição a cada passo. Os demônios jogaram pai contra filho e conduziram nações inteiras às estúpidas e brutais guerras. Seu exílio do inferno os deixou com um insaciável desejo de trazer dor e sofrimento à todos aqueles que não se curvaram diante deles, assim os Três Irmãos devastaram as terras do futuro Oriente durante intermináveis ciclos.
Em certa ocasião, uma secreta ordem de magos mortais foi criada pelo enigmático Arcanjo Tyrael. Esses feiticeiros deviam caçar os Três Demônios e por um fim ao seu violento comportamento. A ordem, conhecida como os Horadrim, consistia de feiticeiros procedentes de diversos e numerosos clãs de magos do Oriente. Realizando práticas e disciplinas mágicas, esta estranha irmandade conseguiu aprisionar dois dos Irmãos no interior de poderosos artefatos chamados Pedras Alma. Mephisto e Baal, encerrados dentro dos turbulentos limites espirituais das Pedras Alma, foram enterrados abaixo das dunas das desoladas areias orientais.
Os poderes do ódio e da destruição pareceram diminuir no Oriente, enquanto uma nervosa paz pairava sobre a terra. Apesar disso, os Horadrim continuaram sua desesperada busca pelo terceiro Irmão, Diablo, durante muitas décadas. Eles sabiam que se o senhor do terror permanecesse em liberdade, Jamais haveria uma paz duradoura no reino da humanidade.
Os Horadrim seguiram o rastro de terror e anarquia que se estendia pelas terras do Ocidente. Depois de uma grande batalha que custou as vidas de muitas almas valorosas, o Senhor do Terror foi capturado e encerrado no interior da última das Pedras Alma por um grupo de monges Horadrim liderados pelo iniciado Jered Cain. Estes monges levaram a pedra maldita para a terra de Khanduras e lá a enterraram dentro de uma caverna selada às margens do rio Talsande. Sobre essa caverna, os Horadrim ergueram um grande monastério para que pudessem continuar salvaguardando a Pedra Alma. Com o passar das eras, os Horadrim construíram uma rede de catacumbas abaixo do monastério para abrigar os restos mortais dos mártires de sua Ordem.
Gerações se passaram em Khanduras e o número de Horadrims diminuiu gradativamente. Sem mais cruzadas para empreender, a então poderosa Ordem desfez-se na escuridão. Logo, o grande monastério que haviam construído também caiu em ruínas. Embora aldeias crescessem e prosperassem nas cercanias do velho monastério, ninguém sabia das escuras passagens secretas que se estendiam sob a terra fria abaixo dele. Ninguém podia imaginar a ardente pedra roxa que latejava no coração do labirinto...
Livro II - O Retorno do Terror
"As Terras de Khanduras"
Anos depois da morte do último dos Horadrim, uma grande sociedade prosperou nas terras do Ocidente. Com o passar do tempo, muitos peregrinos estabeleceram-se nas terras que cercavam Khanduras e logo ergueram pequenos reinos auto-suficientes. Alguns desses reinos disputavam com Khanduras a posse de propriedades e rotas comerciais. Estas brigas pouco fizeram para abalar a duradoura paz do Ocidente e o grande reino nórdico de Westmarch demonstrou ser um forte aliado, onde ambas as terras estabeleciam relações de troca e comércio.
Durante essa época, uma nova e audaz religião da luz conhecida como Zakarum, começou e estender-se por todo o reino de Westmarch e pelos seus principados do norte. Zakarum, fundada no Leste Oriental, implorava aos seus seguidores que entrassem na luz e expulsassem a escuridão de suas almas. O povo de Westmarch adotou os estatutos de Zakarum como sua missão sagrada no mundo. Westmarch começou a correr atrás de seus vizinhos, esperando que também abraçassem este "novo começo". Surgiram tensões entre os reinos de Westmarch e Khanduras quando os sacerdotes de Zakarum começaram a pregar seus dogmas estrangeiros, fossem eles bem-vindos ou não.
Foi então que o grande senhor do norte conhecido como Leoric chegou às terras de Khanduras e, em nome de Zakarum, declarou-se rei. Leoric era um homem profundamente religioso e levou consigo muitos cavaleiros e sacerdotes que formavam sua Ordem da Luz. Leoric e seu conselheiro de confiança, o Arcebispo Lázarus abriram caminho até a cidade de Tristam. Leoric apoderou-se do antigo e decrépito monastério das cercanias da cidade para convertê-lo na sede de seu trono e o renovou para restaurar sua antiga glória. Embora o povo livre de Khanduras não concordasse com o súbito governo de um rei estrangeiro, Leoric os serviu com justiça e poder. Com o tempo, o povo de Khanduras respeitou ao bom Leoric, sentindo que ele só queria guiá-los e protegê-los contra as opressões das trevas.
"O Despertar"
Não muito depois de Leoric apossar-se de Khanduras, um poder há muito adormecido despertou nos escuros corredores que haviam abaixo do monastério. Sentindo que a liberdade estava ao seu alcance, Diablo entrou nos pesadelos do Arcebispo e o arrastou ao sombrio labirinto subterrâneo. Em seu terror, Lázarus correu pelos abandonados corredores até que por fim chegou à câmara da ardente Pedra Alma. Sem controle sobre sua mente e espírito, ergueu a pedra sobre sua cabeça e pronunciou as palavras há muito tempo não eram ouvidas no mundo dos mortais. Com sua vontade dominada, Lázarus lançou a Pedra Alma contra o chão. Uma vez mais Diablo retornava ao mundo dos homens. Embora liberto de seu confinamento da pedra, o senhor do terror ainda estava muito debilitado devido ao seu longo sono e necessitava de um vínculo com o mundo. Uma vez encontrada uma forma mortal na qual pudesse instalar-se, poderia voltar a recuperar seu poder grandiosamente reduzido, O grande demônio examinou as almas que residiam na cidade exterior e decidiu tomar a mais forte delas - a do rei Leoric.
Durante muitos meses, o rei Leoric combateu secretamente a presença maligna que retorcia seus pensamentos e emoções. Sentindo que estava possuído por algum demônio desconhecido, Leoric ocultou seu escuro segredo de seus sacerdotes, esperando que de alguma maneira sua devota resistência bastasse para exorcizar a corrupção que crescia em seu interior - mal sabia ele o quanto enganado estava. Diablo agarrou o coração do ser de Leoric, queimando e destruindo toda a honra e virtude de sua alma. Lázarus também estava dominado pelo mal, mantendo-se perto de Leoric em todo momento. Lázarus trabalhava para ocultar da Ordem da Luz os planos de seu novo Amo, esperando que o poder do demônio aumentasse bem escondido entre os servos de Zakarum.
Os sacerdotes de Zakarum e a cidade de Khanduras perceberam a desconcertante mudança em seu governante. Sua então orgulhosa e imponente forma distorceu-se e deformou-se. O rei Leoric delirava cada vez mais e ordenava a execução imediata de qualquer um que se atrevesse a questionar seus métodos e autoridade. Leoric começou a enviar seus cavaleiros a outras aldeias para subjugar seus habitantes. O povo de Khanduras que havia crescido apenas para ver a grande honra que possuía seu governante, agora chamava Leoric de o Rei Negro.
Levado à beira da loucura pelo Senhor do Terror, o rei Leoric lentamente perdeu seus amigos e conselheiros mais próximos. Lachdanan, capitão dos cavaleiros da Ordem da Luz e valoroso campeão de Zakarum, tratou de investigar a natureza da deterioração de seu soberano. Mas a cada passo que dava o Arcebispo Lázarus empenhava-se em afastá-lo e aborrecê-lo por questionar os atos de seu rei. Quando a tensão entre eles tornou-se insuportável, Lázarus acusou Lachdanan de traição ao Reino. Para os sacerdotes e cavaleiros da corte de Leoric, a possibilidade de Lachdanan cometer traição era ridícula. Seus motivos eram honrados e justos e então muitos começaram e duvidar da razão de seu antes amado rei.
A loucura de Leoric ficava mais óbvia a cada dia que passava. Percebendo que os conselheiros da corte suspeitavam cada vez mais da falsa acusação, Lázarus tentou desesperadamente manter a situação. O Arcebispo astutamente convenceu o desequilibrado rei que o reino de Westmarch conspirava contra ele, planejando depô-lo e anexar Khanduras às suas próprias terras. Leoric explodiu de raiva e convocou seus conselheiros. Manipulado pelo Arcebispo, o paranóico governante declarou estado de guerra entre Khanduras e Westmarch.
Leoric ignorou as advertências e amolações de seus conselheiros e ordenou ao exército real que se dirigisse ao norte para engajar-se em uma guerra na qual não acreditava. Lachdanan foi designado por Lázarus como líder das tropas de Khanduras contra Westmarch. Ainda que Lachdanan discutisse contra a necessidade deste conflito, estava obrigado por honra a submeter-se à vontade do rei. Muitos dos altos sacerdotes e oficiais também foram obrigados a viajar para o norte como emissários em assuntos de urgência diplomática. O desesperado ardil de Lázarus havia alcançado seu objetivo, obrigando que muitos dos conselheiros mais problemáticos fossem enviados a uma morte certa...
"A Queda de Tristram"
A ausência dos devotados conselheiros e sacerdotes deixaram Diablo livre para assumir o controle absoluto sobre a já abatida alma do rei. Quando o Senhor do Terror tentou reforçar seu domínio sobre o rei louco, percebeu que o persistente espírito de Leoric ainda lutava contra ele. Embora o controle que Diablo mantinha sobre Leoric fosse formidável, o demônio sabia que em seu débil estado jamais conseguiria dominar completamente sua alma, mesmo que um traço de suas vontades ainda permanecesse nela. O senhor demônio buscou então um hóspede novo e inocente no qual pudesse implantar seu terror.
O demônio abandonou seu domínio sobre Leoric, mas sua alma permaneceu corrompida e sua mente descontrolada. Diablo começou a buscar por toda Khanduras o veículo perfeito para ser seu braço no mundo dos mortais e encontrou tal alma facilmente ao seu alcance. Impulsionado por seu amo das trevas, Lázarus seqüestrou Albretch - filho único de Leoric - e arrastou o aterrorizado jovem para as profundezas do labirinto. Preenchendo a indefesa mente da criança com a pura essência do terror, Diablo facilmente possuiu o jovem Albretch.
Dor e fogo percorriam a alma do menino. Um desalmado domínio infestou sua cabeça e nublou seus pensamentos. Paralisado pelo medo, Albretch sentiu a presença de Diablo em sua mente e quanto mais tentava libertar-se, mais profundamente as trevas se alojavam. Diablo observava ao redor através dos olhos do jovem príncipe. Um incontrolável desejo continuava torturando o demônio pelo seu frustrado intento de controlar Leoric, mas os tormentos da criança eram suficientes para satisfazê-lo. Alcançando as profundezas do subconsciente de Albretch, Diablo descobriu os mais terríveis temores do menino e os trouxe à realidade.
Albretch observava, como se saídas de seus pesadelos, as retorcidas e desfiguradas formas que apareciam ao seu redor. Sacrílegas e moribundas visões de terror dançavam ao seu redor cantando coros de obscenidades. Todos os monstros que alguma vez havia imaginado ou acreditado existir em toda a sua vida, tornaram-se reais e vivos diante dele. Enormes corpos de rocha viva emergiam dos muros e inclinavam-se diante de seu amo sombrio. Os antigos e esqueléticos cadáveres dos Horadrim levantaram-se de suas arcaicas criptas e desapareceram pelos corredores lavados com sangue. Enquanto a cacofonia de loucuras e pesadelos desferia seu golpe final contra o enfraquecido espírito de Albretch, os monstros e demônios de sua mente, sedentos de sangue, reuniram-se como maníacos nos corredores do seu despertar.
As antigas catacumbas dos Horadrim haviam se transformado num retorcido labirinto de terror concentrado. Incentivados pela possessão do jovem Albretch por Diablo, as criaturas da própria imaginação do menino haviam ganhado forma corpórea. Tão poderoso era o terror que crescia dentro de Albretch, que as fronteiras do reino mortal começaram a se retorcer e romper. O inferno ardente começou a infiltrar-se no mundo dos homens e a enraizar-se no labirinto. Seres e acontecimentos esquecidos pelo tempo e espaço, há muito ouvidos pela história do homem, foram surgindo em meio a gritos agonizantes que mostravam um domínio em constante expansão.
O corpo de Albretch, totalmente possuído por Diablo, começou a distorcer-se e mudar. O pequeno menino cresceu e seus olhos brilharam, enquanto espinhos ósseos despontavam atravessando sua carne com uma agonia jamais sentida por um humano. Grandes chifres retorcidos surgiram do crânio de Albretch enquanto Diablo alterava a forma do menino para igualar-se à de seu corpo demoníaco. Nas profundezas dos corredores do labirinto, um poder crescente estava sendo controlado. Quando chegasse a hora, Diablo invadiria mais uma vez o mundo mortal e libertaria seus irmãos aprisionados, Mephisto e Baal. Os Demônios Primários se reuniriam e reivindicariam seu lugar por direito no inferno.
"A Queda do Rei Negro"
A guerra contra os exércitos de Westmarch terminou em uma horrível matança. Com as tropas de Khanduras sobrepujadas pela superior força numérica e as posições defensivas de Westmarch, Lachdanan reuniu rapidamente todos aqueles que não haviam sido assassinados ou capturados e ordenou a retirada rumo à segurança de Khanduras. Retornaram apenas para encontrar a aldeia de Tristam mergulhada no caos.
O rei Leoric, ultrapassando os limites da loucura e do juízo, ficou enraivecido quando soube que seu filho havia desaparecido. Além de destroçar a aldeia com os poucos guardas que permaneceram com ele no monastério, Leoric estava convencido que os aldeões haviam raptado seu filho e o escondido em alguma parte. Embora os aldeões negassem ter conhecimento do paradeiro do Príncipe Albretch, Leoric insistia que eles tinham elaborado alguma conspiração contra ele, e que pagariam um alto preço por tal traição.
O misterioso desaparecimento do Arcebispo Lázarus deixou o rei sem ninguém com quem aconselhar-se. Vencido pela ira e pela demência, Leoric mandou executar muitos dos aldeões por crime de alta traição.
Quando Lachdanan e seus companheiros sobreviventes regressaram para enfrentar seu rei, Leoric enviou contra eles seus poucos guardas que restavam. Crendo que Lachdanan era de alguma forma parte da conspiração, Leoric decretou que ele e sua companhia deviam morrer.
Lachdanan, dando-se conta finalmente de que Leoric estava além de qualquer salvação, ordenou que seus homens se defendessem. A batalha os levou até os salões do escuro monastério, levando a definitiva profanação ao até então sagrado santuário dos Horadrim. Lachdanan conquistou uma amarga vitória e seus homens foram obrigados a assassinar todos os protetores de Leoric. Encurralaram o demente rei no interior de seu próprio santuário e lhe pediram que justificasse as atrocidades que havia cometido. Leoric limitou-se a cuspir e acusá-los de traição à coroa e à Luz.
Lachdanan caminhou lentamente até o rei, e inundado pela pena e pela ira, desembainhou sua espada. Com toda sua honra dispersada, enterrou-a no coração negro de Leoric. O então nobre rei lançou um sobrenatural grito de morte, e enquanto sua loucura por fim o vencia, lançou uma maldição sobre todos aqueles que o haviam traído. Invocando as forças da escuridão que combateu durante toda sua vida, Leoric sentenciou Lachdanan e os outros à condenação eterna. Em um último e volátil momento, no coração do monastério, tudo aquilo que alguma vez fora virtuoso e honrado para os protetores de Khanduras, perdeu-se para sempre.
"O Reino de Diablo"
O Rei Negro estava morto, assassinado pelas mãos de seus próprios sacerdotes e cavaleiros. O jovem príncipe Albretch continuava desaparecido, e os orgulhosos defensores de Khanduras já não eram mais. O povo de Tristam viu sua cidade sem vida e sentiu-se debilitado. Abatidos por sentimentos de alívio e ressentimento, logo se deram conta de que seus problemas não haviam terminado ainda. Estranhas e fantasmagóricas luzes surgiram nas escuras janelas do monastério. Criaturas disformes de pele escamosa saíram de dentro das sombras da igreja. Horríveis gritos de dor ficaram suspensos no ar, emanados das profundezas da terra. Era evidente que algo sobrenatural havia infestado o lugar antes sagrado...
Os viajantes dos caminhos que rodeavam Tristam foram atacados por ladrões encapuzados que agora pareciam cavalgar constantemente pela paisagem deserta. Muitos aldeões fugiram de Tristam, dirigindo-se a outras aldeias ou reinos, temendo um mal inominável que parecia esconder-se nas sombras que os rodeavam. Os poucos que ficaram raramente saiam de casa durante a noite e jamais pisavam no terreno do monastério maldito. Os rumores sussurrados de pobres e inocentes pessoas raptadas durante a noite por horríveis criaturas de pesadelo, percorriam as salas das tavernas locais. Sem rei, sem lei e sem exército que os defendesse, muitos dos aldeões começaram a temer um ataque das coisas que agora habitavam os subterrâneos de sua aldeia.
O Arcebispo Lázarus, machucado e desalinhado, voltou de sua ausência e assegurou aos aldeões que ele próprio havia sido atacado pelo crescente mal do monastério. Com a desesperada necessidade de segurança nublando seu bom juízo, os aldeões foram convertidos por Lázarus em uma massa frenética. Lembrando-os que o príncipe continuava desaparecido, convenceu muitos deles a descer até as profundezas do monastério em busca do menino. Reuniram tochas e logo a noite iluminou-se com a fraca luz da esperança. Armaram-se com paus, ferramentas e foices e assim preparados, seguiram cegamente ao traiçoeiro Arcebispo até a feroz entrada do inferno...
Os poucos que sobreviveram ao destino que os aguardava, voltaram a Tristam e contaram o que puderam de seu transe. Suas feridas eram terríveis e nem mesmo a habilidade do curandeiro foi suficiente para salvar alguns deles. À medida que as histórias de demônios se alastravam, um profundo terror primário começou a consumir os corações dos aldeões. Era um terror que nenhuma deles jamais havia conhecido...
Nas profundezas do labirinto que havia abaixo das pedras do monastério em ruínas, Diablo regozijava-se com o medo dos mortais que estavam sobre ele. Lentamente ele banhou-se nas acolhedoras trevas e começou a reunir seu imenso poder. Sorria para si mesmo na confortante escuridão, porque sabia que o momento de sua vitória final se aproximava rapidamente...
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